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Poemas

Eu e o não eu

Veja na categoria Racismo

Eu nessa minha parcimônia, vestida com escancarada elegância, jamais hei de ocultar tão evidentes, a tribo, o atabaque, o axé, o orixá, o ori, o ancestral.   Eu e a minha carapinha cheia de bochicho, minha erva de guiné, minha aroeira, meu samba no pé e outras literaturas.   Eu nessa parcimônia vestida com toda a vida e...

Destinatário

Veja na categoria Política

 Esse moleque forjado em pé no bucólico Passeio Público, aos pés de uma escultura de mestre Valentim, veio dum gozo apressado, curra de amor por dois iguais, entre beijos de jujuba e amendoim.   Nem ao menos estava igualado, entre o aborto e o descaso no bucho da mãe foi espancado, com chá de arruda afogado;...

As águas e o tempo

Veja na categoria Encontros

  para Rachel As águas Agora que a vida é um tempo quase livre e qualquer tempo vale a vera como se fosse eterna, é bom lembrar das histórias das águas e dos momentos do tempo, repentes que passam e ficam passando.   A primeira agua, de toda a vida, se fez, se faz, se foi, a agua do rio, a agua...

Vocação

Veja na categoria Sociedade

 Vivo distante de esperanças e ilusões. Nos meus poemas só escrevo as palavras que as pessoas podem. Não faço provocações     Lugar de viver A cidade onde vivo e outras cidades, são essas tensões lúdicas e libidinosas que consigo atinar quando não atiram em mim.     O realista fantástico Um homem feito de vazios, duros buracos... quase senti pena, mas percebi a tempo que era preguiçoso...

DA FÁBRICA E DA ALMA

Veja na categoria Trabalho

Não posso rezar todos os dias, a igreja abre às sete e a fábrica às seis. Então, Senhor, perdoai-me, mas primeiro o patrão, dele vem o pão.   Vejo outros companheiros, amigos. De dentro de seus olhos vêm gritos, e carregam no interior de suas almas sofrimento. Há muito não sabem o...

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Destinatário

 Esse moleque forjado em pé no bucólico Passeio Público,

aos pés de uma escultura de mestre Valentim,

veio dum gozo apressado, curra de amor por dois iguais,

entre beijos de jujuba e amendoim.

 

Nem ao menos estava igualado,

entre o aborto e o descaso

no bucho da mãe foi espancado,

com chá de arruda afogado;

tomou banho de buchinha,

foi até estiletado, mas nasceu.

 

Nasceu bolado, aloprado e ainda assim sorriu

com a cor da pele inteira.

 

Nasceu subnutrido, subservido,

subtraído, subdetudo.

E embora fosse, não se soube subversivo.

 

Salvou-se com o colostro e todo aquele subamor

com gosto de tiner, maconha e bala de coco.

Cresceu por ali mesmo, ouvindo tiro de polícia,

esculacho de malandro, rapa fora de comerciantes

e mocas de seguranças.

 

Assim, num repente, se fez pivete marrento, cabuloso,

e sem saber,

já pilotava uma magrela e também a nau da dor...

 

Ferido, ferido, perdeu! Perdeu!

a mãe com três facadas, duas delas nos pulmões.

Quis encarar bicho solto, mas levou uns bofetões.

 

Agora está moço feito, tem doze conflitos com a lei.

Foi esse o jeito que teve pra poder dar o seu jeito

em tudo que a vida fez.

E olhando assim ninguém diz,

o moleque já quebrou mais de seis.