semogdaggarehrh


O Teatro Armando Gonzaga é de fundamental importância para o Grupo Negrícia, Poesia e Arte de Crioulo, embora o Negrícia nunca tenha feito qualquer coisa nele. Mas foi no Armando Gonzaga que quatro dos participantes do Negrícia, inclusive três de seus fundadores, tinham participação em grupos culturais suburbanos diferentes, nos anos 70.


Éle Semog participava do Garra Suburbana, grupo que hoje seria chamado de multicultural já que tinha da poesia de periferia, teatro de resistência, musica, dança... Hélio de Assis participava da CAIS, Cooperativa de Artistas Independentes Suburbanos... Togo Yoruba era musico e cartunista do Grupo Quintal Suburbano. Eu, Deley de Acari, participava da montagem, como autor e diretor, da peça Juvenal 105, proibida pela Censura logo no começo dos ensaios e que me “rendeu” dois dias de prisão e tortura na “Boate” da Barão de Mesquita, por violar o artigo 41º da lei de Censura, e todas suas alíneas, que significava ofensas as forças armadas.

Pertenço a uma História que existe/ na memória dos tempos,

suturada no útero desse povo, (...)

Não me curvo ao silêncio/ dessa versão perversa e lúcida,

que torna invisível tudo o que estou (...)

que roubam detalhes, fingem fatos,/ e inumanos desfiguram vidas e verdades.

Busco no tempo um tempo/ maior que ele mesmo,

que se abra em inevitável caos,/ e deixe florir a fúria da História,

e deixe fluir toda a insurreição do silêncio

como uma eufórica sangria na memória. (...)

(Éle Semog, Coisas dessa gente que sou)

No início da década de 1970, os escritores e escritoras negras viviam todas as espécies de solidão, mas duas delas eram mais aflitas, pois não se tratava de um lugar comum do ofício e o que é pior, se impunham à revelia da disponibilidade existencial de cada um.

Uma dessas solidões era provocada pelos escritos de gaveta, de emoções e sentimentos aprisionados, de verdades incertas, de certezas voláteis e silêncios exasperados; como se houvesse punição à força daquela criação que não se desnudava. Outra dessas solidões se traduzia na participação singular nos grupos literários formados por maioria de autores brancos, onde o texto, sempre que quando negro, negritude, negrícia, extrapolava a coisa literata e de modo inexplícito vagava no limbo de uma atitude social nem sempre provida de sutileza. Algo assim como um boi da cara preta e nada mais que isso, ou um Pelé, e nada mais que isso, naquela literatura que praticávamos.

Cada um sem saber da existência de tantos, quase que emparelhados, esses escritores e escritoras transitavam por uma espécie de labirinto, sem achar uma saída comum, um lugar de encontro, que permitisse alçar outros vôos.

Nos séculos XV e XVI, com o início da expansão ultramarina, a região que hoje é conhecida como África era genericamente identificada pelos europeus, tanto por conta da expansão colonial quanto pela delimitação de áreas comerciais, como Etiópia (termo de origem grega que refere a país das gentes dos rostos queimados), ou país dos negros.

Com essa expansão os europeus buscavam ter acesso ao ouro, que desde a idade média chegava à Europa por meio de mercadores mulçumanos que, além de outras mercadorias, comercializavam escravos na região.

Entretanto, é corrente o fato mítico religioso de que o surgimento da Etiópia teve início há 1000 a.C., com a união do reino do rei Salomão com o da rainha Balkis de Sabá; desse encontro nasceu um filho que ao assumir o trono de Sabá introduziu a religião judaica naquele reino. No século IV a Etiópia foi evangelizada pela igreja egípcia, que embora pregasse (e pregue) que Jesus Cristo tinha apenas uma natureza divina, não foi impedimento para que Portugal, durante boa parte do século XIV, defendesse aqueles cristãos hereges dos inúmeros ataques e tentativas de dominação por parte dos mulçumanos.

A Utopia da Dominação

É sempre um desafio para todos nós, nesse tempo de globalização, de mercados estruturais e de produção de um pensamento único nos campos cultural, político, e social, sermos chamados a refletir sobre cultura, folclore, literatura e identidade.

É sempre um desafio para todos nós, nesse tempo de globalização, de mercados estruturais e de produção de um pensamento único nos campos cultural, político, e social, sermos chamados a refletir sobre cultura, folclore, literatura e identidade. Na verdade, reflexões desta natureza guardam um quê de insubordinação frente ao determinismo da indústria cultural, à mesmice acadêmica e à apática indiferença governamental no trato com os acervos e as produções culturais brasileiras, notadamente aquelas de origem popular, que se caracterizam como vetores ativos da identidade cultural brasileira, constituindo-se este estado de coisas numa contradição explícita em relação à idéia de autonomia, nação, pátria e outros aforismos produzidos pelos estados nacionais nos meados e fins do milênio passado.